segunda-feira, 24 de março de 2008

Mauro Modesto


Mauro Modesto, para quem não sabe, já foi aluno na antiga EAVM e foi bom de bola. Quem confirmou foi o "Bié". Aliás, quem naquela época antes de virar diretor da EAFI há muito tempo já tinha virado técnico de futebol.

Por repetidas vezes, Mauro Modesto lembrou a história de como chegara a Inconfidentes: mãos abanando, vindo de Pinheiral (RJ), para onde depois voltou. Na verdade estagiou poucos meses mas, o suficiente para deixar "recuerdos" dos mais felizes entre pessoas amigas como as sempre lembradas Terezinha (Sobreiro) e Zaída.

Na verdade para mim tudo foi surpresa. Principalmente agora, chegado aos tempos de hoje. Não o conhecia, pois quando por aqui passou eu já tinha terminado a EAVM e partira para Campinas (1962). Mas um belo dia, uma tarde qualquer modorrenta, apareceu-me Mauro Modesto: porta aberta, já no hall de entrada. De modo ainda desajeitado desviava a testa do pendente a cair do teto, pois sua altura mesmo sem chapéu alcançava a luminária relativamente baixa, a pouca altura acima do dono da casa.

De fato tinha mesmo uma aparencia algo estranha. Parecia chegado do Havai. Modernoso, vestia o uniforme esportivo de terceira idade mal chegada: camisa florida, estampada e, bermuda até meia canela, caqui, tipo garotão; tenis de marca, meia baixa com gola avermelhada. E na mão chapéu preto com um bico agunilado esquisito. Jamais ocorrera-me na vida deparar com tal personagem marcadamente interessado em me conhecer; pois parecíamos seres de outras galáxias com encontro marcado em Inconfidentes, sem nem nenhum saber data. Assim pareceu-me ver em tão inopinado e estranho personagem de repente adentrado. Se fosse pelo faro e pelo "pedigri", logo pensei: típico "tira" de cinema disfarçado de doido. Pelo menos parecia "mais doido do que eu" me sentindo em casa. Sabedor do orgulho do antigo diretor da EAVM com seu time de futebol, soletrava o nome de meu pai correta e correntemente... com o acento no "á" do sobrenome e recitava o nome de alguns de meus irmãos, familiar. E depois, já sentado se apresentava antes que lhe fosse perguntado: dizia-se "um poeta". Um "vagabundo". Depois concedeu: seria jornalista e também economista. Com tudo isso fiquei embatucado até o Bié confirmar. Era verdade.

Mas mesmo depois e, até para chegar a suspeitar do Bié - caso a Terezinha não confirmasse seus mais antigos dos rccuerdos, ainda cismava. Parecia-me muito mais um agente do SNI quando queria puxar "papo" e jeito de chegar em casa de quem vive recolhido em seu canto e tem ainda a fama de ser o mais varrido habitante local. E pouco estar ligando para isso. Assim, não seria de estranhar tão estranho encontros de seres nesse planeta, quando, por saudosismo Mauro Modesto sai de lá do Acre para de repente "matar saudade" de Inconfidentes. E mais ainda, visitar "seres extraterrestres" que incomodavam poderosos do lugar e escreviam coisas "Para o Povo Saber" ao quanto bastava publicar.

Numa terceira vez, quando esteve aqui, circulou pela fazenda da EAFI, quando o Alordo, outro emérito contador de "causos" pode conferir a chegada de tão estranho personagem quem a ele também se apresentou como um "mais maluco do que eu"... Foi quando conheceu o patrimônio histórico e ambiental com os olhos de um acreano possível olheiro da Marina, talvez, quem sabe.

O sim pelo não, parece ter entendido o recado quanto ao projeto ambiental de Inconfidentes junto com a idéia de aproveitar a riqueza ambiental presente e o potencial oferecido pela EAFI, onde se espantou até com o pouco caso dedicado ao patrimônio histórico, salvo por um triz. Revelou-se preocupado coma preservação da memória da escola agrícola e ainda sonha em aqui voltar para fundar uma escola de artes - assunto esse que por último ainda deixou como "pauta".

Pois olha, numa segunda vez que aqui esteve, esse ex-aluno da EAVM trouxe-me de presente um seu livro resultado de pesquisa lingística: "Dicionário de Termos Populares do Acre". Bela capa com cinco fotos sugestivas: Arara vermelha, o Açaí, águas (rio embandeirado), árvore, e a onça.

Prefaciado pelo senador Tião Viana e editado com apoio cultural do Governo do Acre (Governo da Floresta), o livro termina na contracapa, onde, encimada pela foto (casinha coberta de sapé), fecha o falado acreano como no arranjo do poema abaixoda foto:

"CASA DESERINGUEIRO"

"No seringal não tem gente escovada;
catinga é mal cheiro;
sanitário é conhecido como privada;
zé meleca, indivíduo incompetente
O povo chama dinheiro de gaita;
cobra é gente valente;
olhos bem abertos, lá é aboticados;
festa é baiúca;
zuruó significa amalucado;
pura bucha, objeto de má qualidade;
coringa é bente boa;
galo cantando em noite escura é infelicidade;
abicorar é pastorar;
quem assobia à noite atrai cobra;
tesouro é mulher bonita;
descuidado é abismado;
raivozo é zangado". (Mauro Modesto)

Pois é.
Outraa vez aqui voltado sem ser a última,mostrou-me também poemas que trazia em papel datilografado.
Li, verso por verso como de costume. Depois, porém, jamais vou poder voltar a ler poesia como antes. Após terminada a leitura, indicou-me: - agora volte ao começo. Leia um verso. Salte o seguinte.... e vai. Se faz a cambalhota-poema-diverso-dai-nascido. Rosca-sem-fim.

Confessei-lhe: Como fazer agora?
(Jamais conseguirei agora ler estrofe do mesmo jeito.... sem depois cambalhotar! Responsabilizo-o por isso).

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Mauro D'Avila Modesto é jornalista, também economista e compositor (letrista).
Seus escritos: Desencontro - poesisa e crônicas (1983) . Porque? - poesias e crônicas (1985). Toda saudade tem um nome - poesias e crônicas (1990). Respingo de paixão e de saudade - poesias (1998).
Pedaços de amor de de saudade (2000) e Neblina de saudade (2004).

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